"Reflicto nesta questão enquanto estou sentada na colina a vê-lo movimentar-se ao longe. Por um breve instante, a minha memória regressa aos momentos que ali passei... Mas isso, parece-me cada vez mais um sonho. Deixo-me ficar a contemplar aquele sítio à medida que a noite cai. É a noite difícil da lua cheia, a noite em que as minhas recordações vêm à superfície. Nunca deixam de o fazer. Sustenho a respiração ao ver a Lua a dar início à subida lenta no horizonte, o seu reflexo leitoso a elevar-se mesmo por cima deste sítio. Durante muito tempo, espero em vão. A Lua continua a descrever o seu longo arco através do céu, e, uma a uma, as luzes das casas vão-se apagando. Dou por mim com os olhos ansiosamente fixos na porta da frente, à espera do impossível. Eu sei que ele não vai aparecer, mas não é por isso que me consigo obrigar a ir embora. Inspiro lentamente, como se tivesse esperança de assim o trazer cá para fora. E quando finalmente o vejo a sair de casa, sinto um estranho formigueiro percorrer-me as costas, uma sensação completamente nova para mim. Ele detém-se nos degraus, e eu fico a vê-lo virar-se, dando a ideia de que está a olhar na minha direcção. Fico paralisada sem motivo – sei que é impossível ele ver-me. Do meu poiso, vejo-o a fechar a porta silenciosamente atrás de si. Desce lentamente os degraus e deambula até ao centro do pátio. Aí pára e cruza os braços, deitando uma olhadela por cima do ombro para ter a certeza de que não veio ninguém atrás dele. Por fim, parece descontrair-se. E então eu sinto-me como se estivesse a presenciar um milagre, quando, com extrema lentidão, o vejo a virar o rosto ao luar. Ele cumpriu o meu pedido. Observo-o a contemplar a lua cheia, a sentir a corrente de emoções que ela desencadeou e o desejar apenas dizer-lhe que me encontro aqui. Porém, ao invés, deixo-me ficar onde estou e dirijo também o olhar para a Lua. E, por um breve instante, quase tenho a sensação de que estamos novamente juntos."